Jean-Michel Vivés
Resumo:
Esta segunda série de textos de Jean-Michel Vivès publicada na Coleção Janus sobre a voz e a pulsão que a ela se liga reúne indagações metapsicológicas e clínicas essenciais ao tratamento psicanalítico, em particular o da psicose e o do autismo. Partindo do estabelecimento da noção de ponto surdo, com a qual busca extrair as consequências da relação existente entre o nascimento do sujeito e a voz do Outro, o autor retoma, à luz do ensino de Jacques Lacan, das contribuições de Alain Didier-Weill e de trabalhos de diversos psicanalistas, psicólogos geneticistas e musicólogos, a longa e profícua construção quer do conceito de recalque originário, quer da instância psíquica do supereu na obra de Sigmund Freud, à qual acrescenta importantes reflexões e mesmo antecipações de Theodor Reik, um dos únicos, entre os contemporâneos deste, a tentar pensar o som e a música de um ponto de vista psicanalítico.
Em permanente interlocução com as diferentes manifestações sonoras pelas quais o sujeito é invocado, afetado e animado, a inspirada afinação teórico-clínica que ressai do prelúdio e dos oito capítulos deste livro deixa ver que a escuta do psicanalista e o testemunho oferecido pelo que de sua prática vem a público se entretecem numa improvisação, cujas bases decorrem não apenas da linguagem e de suas leis que lhe foram transmitidas, mas também de uma permanente insistência (significativas vezes, silenciosa) sobre o que, ao repetir-se, propicia o inaudito. Da improvisação aqui apresentada, destacam-se o conjunto de considerações sobre o timbre, entendido como a dimensão real, a um só tempo indefinível e insubstituível, da voz; a abordagem do estatuto topológico da voz superegoica; e a voz maquinal e a vocalidade artificial como recursos profícuos no tratamento das crianças autistas.