Lacan e a formação psicanalista

Marco Antonio Coutinho Jorge [org.]

Resumo:

Quando alguém fala a um psicanalista confessa ou confia o seu sofrimento? Este, ao escutar aquele que lhe dirige a palavra, deve lembrar ou esquecer do que aprendeu em sua própria análise? A capacidade de redescobrir a própria fala se mantém ou se perde ao longo da vida?
Questões como estas, supostamente anódinas diante do sofrimento humano, não só permitem o estabelecimento de pontos de referência fundamentais para a formação do psicanalista, como também contribuem para que esta mantenha seu caráter permanente, pois, retomadas à luz dos efeitos clínicos, não deixam que a escuta se acomode ao que já se sabe e não basta para que a experiência analítica encontre seu termo.
O modo como um psicanalista se forma, estruturado ainda hoje segundo o tripé análise pessoal, ensino teórico e supervisão clínica, tem dois pontos de inflexão fundamentais: a suposta iminência da morte de Freud após ter descoberto o câncer que lhe retiraria a vida e a ação de Lacan sobre o legado freudiano e seus desdobramentos. Sem a análise desses pontos, a repetição estandartizada da prática clínica parece ganhar autonomia e se desvincular das questões humanas que continuam a fazer com que as pessoas procurem um psicanalista.
Os textos aqui reunidos mapeiam a história e a estrutura da formação do psicanalista, bem como demarcam as principais balizas da análise, do ensino e da supervisão relacionados a ela. Seu conjunto certamente é referência fundamental para o tema e deve interessar tanto a quem fala como a quem escuta palavras que, transferidas, deixam de ser o que pareciam e se põem a nos transformar.