A VOZ NA CLÍNICA PSICANALÍTICA

Jean-Michel Vivès

Resumo:

Reúnem-se aqui seis dos principais textos do psicanalista Jean-Michel Vivès sobre a voz na clínica psicanalítica, bem como sobre a sua presença na música e na literatura. Dando sequência aos desdobramentos decorrentes da nomea­ção da pulsão invocante por Jacques Lacan, Vivès aborda não só a metapsicologia e o campo psicopatológico, com destaque para a gagueira, mas também a reinterpretação do encontro de Ulisses com as sereias por Franz Kafka e a invenção da direção de ópera por Herbert Graf, o célebre paciente de Freud conhecido como o pequeno Hans. A originalidade e o alcance clínico das formulações do autor insistem na relevância de o psicanalista supor a existência de um sujeito capaz de responder ao “Tu és isso” da censura com um “Não sou apenas isso” essencialmente simbólico e surgido sob um fundo de silêncio imemorial desvelado pela voz. Nesses termos, o psicanalista é um sujeito suposto saber que há – além das inibições, sintomas e angústias com que se depara – a criação de um “Eu me tornarei”, cujas coordenadas se valem dos restos decantados pelo trabalho analítico. Eis por que o fim de uma análise, bem como a conclusão de uma obra teatral ou de uma ópera devidamente encenadas, atualiza a invisibilidade daquele que imprime a sua direção, no sentido de que sua presença se soluciona ou dissolve na trama que leva ao surgimento do inaudito. Ao se separar da necessidade de suas construções sintomáticas, o sujeito se põe a inventar o que será a obra de sua vida, autorizando-se a insistir no que é o seu desejo.