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Os nomes do Pai

Alain Didier-Weill – 2015

Encontram-se neste livro dois seminários realizados por Alain Didier-Weill no Brasil, no âmbito de sua colaboração como Corpo Freudiano Seção Rio de Janeiro. Em ambos, o leitor pode acompanhar não só o desenvolvimento minucioso de temas caros ao autor, como também a agudeza e a inventividade de seu trabalho teórico-clínico. Aluno de Jaques Lacan, em cujos últimos seminários realizou três intervenções, Didier-Weill tem sido voz marcante na interlocução entre as consequências clínicas da psicanálise e os efeitos decorrentes das manifestações artísticas e culturais do sujeito, com destaque para a música, o teatro e, mais recentemente, os direitos do homem. Ao partir seja da tríplice herança – grega, bíblica e cristã – de Sigmund Freud, seja da escansão e da pulsão invocante em suas relações com a fundação do sujeito e a constituição da palavra, da imagem e do corpo, as seis aulas aqui reunidas são um vivo testemunho da capacidade de metaforizar que anima, tal qual um sopro espiritual, a experiência psicanalítica e o que dela se consegue passar.

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Passagens: transmissão da psicanálise e direitos do homem

Paolo Lollo – 2015

Os noves artigos aqui reunidos abrem muitas passagens nos rumos da psicanálise. Ao centrar sua pesquisa em três questões essenciais – a transmissão do saber analíico, os direitos do homem e as relações entre o universal e a diversidade -, Paolo Lollo percorre territórios da literatura, da filosofia e da política, fazendo-se acompanhar de equivalências e dissonâncias linguísticas embasadas tanto no estudo filológico quanto na clínica psicanalítica. De um discurso a outro, ele “passa” por entre essas disciplinas, atravessa conceitos psicanalíticos e faz surgir significantes novos. A singularidade de sua pesquisa se vale da prática de abordar a linguagem à luz da etimologia. Para isso, remonta à origem das palavras e reconstrói suas derivações em diferentes línguas. Passagens, assim, convida seus leitores não apenas a realizar uma viagem poética que ultrapassa os impasses da razão, como também a ouvir a suave dialética do inconsciente e a força da subversão analítica, pelas quais o desejo e a divisão do sujeito continuam a exercer constantes reviravoltas nos discursos compartilhados.

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Letras do Sintoma

Sonia Leite e Teresinha Costa (organizadoras) – 2016
Editora Contra Capa / Selo Janus do Corpo Freudiano

O sintoma, fruto de um conflito que nele encontra sua mais veemente expressão, tem sentido – eis a novidade da proposição freudiana que inaugura a clínica psicanalítica em sua especificidade. No rol das formações do inconsciente, repertoriado ao lado dos sonhos , dos chistes e dos atos falhos, ele é a resultante do conflito entre o eu (instância recalcante por excelência) e o pulsional (objeto do recalque), o fim de um processo iniciado nas exigências da satisfação pulsional e encaminhado à produção das fantasias que estão em sua origem. Sua análise, assim, desvela o que lhe é subjacente, com seu sentido inconsciente e seu polo de gozo pulsional, o mais reticente à diz-solução. Histérico, ao invadir o real do corpo; obsessivo, ao preencher os espaços vagos do pensamento; ou fóbico, ao substituir a angústia por um objeto de medo, o sintoma é estruturado como linguagem. Por ser a encruzilhada que indica o lugar do sujeito dividido, a psicanálise visa não à sua eliminação, mas sim trazê-lo à fala, o que Jacques Lacan nomeou como ”bem-dizer o próprio sintoma”, vendo nisso uma face relevante da ética psicanalítica. Nesse livro, o leitor encontra uma série de elaborações em torno do sintoma em suas diversas manifestações neuróticas. Na histeria, mostram o quanto suas configurações atuais refletem, como sempre, os impasses diante da feminilidade; nas obsessões e nas fobias, declinam a sua singular dialética coma angustia; e nas artes e na cultura, revelam que suas letras constituem legítimas manifestações do sujeito nos mais diferentes campos da experiência humana. Marco Antonio Coutinho Jorge

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Lacan e a formação do psicanalista

Marco Antonio Coutinho Jorge [org.]
85-7740-013-1 | 296 p. | 16 x 23 cm.

Quando alguém fala a um psicanalista confessa ou confia o seu sofrimento? Este, ao escutar aquele que lhe dirige a palavra, deve lembrar ou esquecer do que aprendeu em sua própria análise? A capacidade de redescobrir a própria fala se mantém ou se perde ao longo da vida?
Questões como estas, supostamente anódinas diante do sofrimento humano, não só permitem o estabelecimento de pontos de referência fundamentais para a formação do psicanalista, como também contribuem para que esta mantenha seu caráter permanente, pois, retomadas à luz dos efeitos clínicos, não deixam que a escuta se acomode ao que já se sabe e não basta para que a experiência analítica encontre seu termo.
O modo como um psicanalista se forma, estruturado ainda hoje segundo o tripé análise pessoal, ensino teórico e supervisão clínica, tem dois pontos de inflexão fundamentais: a suposta iminência da morte de Freud após ter descoberto o câncer que lhe retiraria a vida e a ação de Lacan sobre o legado freudiano e seus desdobramentos. Sem a análise desses pontos, a repetição estandartizada da prática clínica parece ganhar autonomia e se desvincular das questões humanas que continuam a fazer com que as pessoas procurem um psicanalista.
Os textos aqui reunidos mapeiam a história e a estrutura da formação do psicanalista, bem como demarcam as principais balizas da análise, do ensino e da supervisão relacionados a ela. Seu conjunto certamente é referência fundamental para o tema e deve interessar tanto a quem fala como a quem escuta palavras que, transferidas, deixam de ser o que pareciam e se põem a nos transformar.

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Sobre as manipulações irreversíveis do corpo e outros textos psicanalíticos

Paola Mieli – 2002

Este livro carrega a força do discurso psicanalítico. Surpreende. Tecido com a delicadeza de um crochê de linha fina e pontos firmes, apresenta ao público brasileiro o trabalho de Paola Mieli, psicanalista italiana residente nos Estados Unidos há quase vinte anos.
Partindo do reconhecimento do que em nós há de precário, de não-sabido, suas contribuições visam primordialmente ao entrelaçamento do que se aprende na experiência psicanalítica com questões concernentes ao campo social. Como observa, a existência da « realidade material » da psicanálise em nada garante a existência do verdadeiro discurso psicanalítico.

Entre as principais questões por ela abordadas estão : as reflexões de Freud acerca da fantasia originária e a abordagem lacaniana da dimensão estrutural mítica da experiência subjetiva; os papéis desempenhados pela fantasia e pela realidade na constituição do trauma; as consequências psíquicas decorrentes de manipulações irreversíveis do corpo; e sua própria experiência clínica em Nova Iorque e o enfrentamento de condições não favoráveis ao desenvolvimento do discurso psicanalítico.

Rigorosa, crítica e prenhe de boas idéias, a prática da psicanálise sustentada por Paola Mieli não abre mão de articular sua rica experiência clínica com a observação interessada do mundo. É o que se verá aqui.

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Amor, ódio e ignorância: Literatura e psicanálise

Literatura e psicanálise – 2005
Nadiá Paulo Ferreira | ISBN | 85-87184-32-6 | 2005

Este livro surpreenderá o leitor em muitas de suas qualidades: a originalidade com que são tecidas as relações entre literatura e psicanálise; seu modo delicado de desfazer velhos problemas que contribuíram mais para confundir que para evidenciar a fecundidade e a singularidade de cada um desses campos – por exemplo, a tendência, inaugurada pelos surrealistas, de atribuir ao trabalho literário valor analítico -; e a forma por meio da qual são abordados textos literários, de modo que esta, mais que interpretá-los em nome de uma teoria ou mito qualquer, preserva a função da leitura e o seu poder de (re)velar a verdade.

Nadiá Paulo Ferreira se vale de um fio condutor para traçar os caminhos por onde se cruzam esses dois modos discursivos que têm em comum às práticas da fala e da escrita: as três paixões do ser, às quais Jacques Lacan se refere em seu primeiro seminário. Vale precisar, no entanto, que a opção por tal recurso não é apenas alusiva e, por isso mesmo, não se presta aos vícios do emprego forçado de teses lacanianas e de sua repetição cega. Evidenciam-se as sensibilidades teórica e estética da autora, ambas cultivadas ao longo de sua trajetória como psicanalista e estudiosa da literatura, e que aqui estão testemunhadas por seu empenho em empreender uma longa e diligente explicitação dos fundamentos do núcleo de suas argumentações.

De um lado, essa fundamentação é generosamente oferecida por meio de uma exegese dos conceitos psicanalíticos de pulsão, desejo, traço unário, ideal do eu, eu ideal, supereu, das Ding e gozo, entre outros, todos imprescindíveis à abordagem das três formas de identificação de que resultam os modos com que o amor se manifesta. De outro, sobressaem-se entre as referências literárias presentes O banquete , de Platão, representando a percepção moderna sobre amor, e dois textos da escritora portuguesa Ana Hatherky, O mestre e Tisanas , utilizados como pontos de fuga do mito do amor. Entretecidas nesse diálogo, decantam-se então novas possibilidades de apreensão das relações entre amor, ódio e ignorância, conferindo a este trabalho grande importância no campo psicanalítico atual.

Laéria Fontenele
Psicanalista e Professora Adjunta da
Universidade Federal do Ceará

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Dimensões do despertar na psicanálise e na cultura

Denise Maurano, Heloneida Neri e Marco Antonio Coutinho Jorge [orgs.]
16 x 23 cm | 168 p. | 978-85-7740-098-0 | 2011

Entre ter algo na lembrança, ou na memória, e deixá-lo vir à mente, deixar-se surpreender, tremeluz um mistério sonoro, cuja aceitação se bifurca na possibilidade de interrogá-lo e na capacidade de aceitá-lo. O que surge, o que cresce, o que se manifesta e se estrutura, mas também o que decresce, o que se vela e o que tende morte se combinam em sons e silêncio, permitindo ver que uma das mais difíceis tarefas humanas é ser o que se é, tornar-se o que se deve e, ao mesmo tempo, o que se pode ser, no sentido de se virar com o que se deixa de ser. Um ser já não mais indiviso e, necessariamente, um ser que se deixa ser. As 13 contribuições aqui reunidas, apresentadas durante o 1 Colóquio Internacional do Corpo Freudiano, têm sua leitura escandida pelas três conferências que Alain-Didier Weill pronunciou na ocasião. Oriundas de experiências e países diversos, essas contribuições ensaiam um trabalho conjunto de diferentes vozes, cuja dissonância ensina que o cerne de cada língua, resistente à sua tradução para outros idiomas, é não apenas obstáculo, mas também via de acesso e despertar para o que não se pode compreender e, portanto, das ausências por que nos tornamos fala-seres.

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A voz na clínica psicanalítica

Jean-Michel Vivès

Reúnem-se aqui seis dos principais textos do psicanalista Jean-Michel Vivès sobre a voz na clínica psicanalítica, bem como sobre a sua presença na música e na literatura. Dando sequência aos desdobramentos decorrentes da nomea­ção da pulsão invocante por Jacques Lacan, Vivès aborda não só a metapsicologia e o campo psicopatológico, com destaque para a gagueira, mas também a reinterpretação do encontro de Ulisses com as sereias por Franz Kafka e a invenção da direção de ópera por Herbert Graf, o célebre paciente de Freud conhecido como o pequeno Hans. A originalidade e o alcance clínico das formulações do autor insistem na relevância de o psicanalista supor a existência de um sujeito capaz de responder ao “Tu és isso” da censura com um “Não sou apenas isso” essencialmente simbólico e surgido sob um fundo de silêncio imemorial desvelado pela voz. Nesses termos, o psicanalista é um sujeito suposto saber que há – além das inibições, sintomas e angústias com que se depara – a criação de um “Eu me tornarei”, cujas coordenadas se valem dos restos decantados pelo trabalho analítico. Eis por que o fim de uma análise, bem como a conclusão de uma obra teatral ou de uma ópera devidamente encenadas, atualiza a invisibilidade daquele que imprime a sua direção, no sentido de que sua presença se soluciona ou dissolve na trama que leva ao surgimento do inaudito. Ao se separar da necessidade de suas construções sintomáticas, o sujeito se põe a inventar o que será a obra de sua vida, autorizando-se a insistir no que é o seu desejo.

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Lacan e a clínica psicanalítica

Alain Didier-Weill – 2012

Encontram-se neste livro um seminário e uma conferência de Alain Didier-Weill realizados no Brasil, no âmbito de sua colaboração com o Corpo Freudiano Seção Rio de Janeiro. Em ambos, o leitor pode acompanhar não só o desenvolvimento minucioso de temas caros ao autor, como também a agudeza e a inventividade de seu trabalho teórico-clínico. Aluno de Jaques Lacan, em cujos últimos seminários realizou três intervenções, Didier-Weill tem sido voz marcante na interlocução entre as consequências clínicas da psicanálise e os efeitos decorrentes das manifestações artísticas e culturais do sujeito, com destaque para a música, o teatro e, mais recentemente, os direitos do homem. Ao partir da escansão e da pulsão invocante em suas relações com a fundação do sujeito e a constituição da palavra, da imagem e do corpo, as seis aulas aqui reunidas são um vivo testemunho da capacidade de metaforizar que anima, tal qual um sopro espiritual, a experiência clínica propiciada pela psicanálise e o que dela se consegue à cultura passar.

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Freud-Einstein: maio de 1933

Alain-Didier Weill – 2014
80 p. | 2014 | 15,5 x 23 cm | 1ª edição | 978-85-7740-163-5

Psicanalista e dramaturgo. Foi membro da École Freudienne de Paris, fundada por Jacques Lacan. Um dos idealizadores do Inter-Associatif de Psychanalyse, criou a Association Insistance (Paris/Bruxelas). Autor de vários livros, entre os quais Lacan e a clínica psicanalítica, Nota azul: Freud, Lacan e a arte, Os Nomes do Pai e Un mystère plus lointain que l’inconscient. Entre suas peças de teatro, destacam-se Pol, Les trois cases blanches e Vienne 1913.

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Nota Azul: Freud, Lacan e a arte

Alain-Didier Weill com a colaboração de Chawki Azouri, Claude Rabant, Marco Antonio Coutinho Jorge | 80 p. | 2014 | 16 x 23 cm | 2ª edição | 978-85-7740-162-8

O que a prática do psicanalista não cessa de lembrar é que a mestiçagem de substâncias tão heterogêneas quanto o são a materialidade do corpo humano, a imagem que dele se tem e o verbo nele enxertado institui entre corpo, imaginário e palavra uma nodulação, cujo caráter problemático se traduz pelo sofrimento a que chamamos de sintoma. À luz desse ensinamento cotidiano concedido ao psicanalista, Alain Didier-Weill interroga as relações existentes entre a arte e a psicanálise, valendo-se, sobretudo, das incidências do ensino de Jacques Lacan sobre a função do real na estruturação do psiquismo humano. Entre os efeitos clínicos que aborda, com ênfases distintas na concepção freudiana de sublimação, nos tempos necessários à subjetivação e no circuito pulsional, destaca-se a elaboração de como se pode assumir o reconhecimento de que, não sendo senhores da palavra, somos instituídos pelo que dizemos.

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Clínica e estrutura

Nadiá Paulo Ferreira e Julia Cristina Tosto Leite (organizadoras) – 2014

Ao recolher de sua prática clínica os fundamentos do que existe antes e apesar da teoria, o analista não apenas sabe que o sujeito sabe sobre as condições de sua existência sem saber que sabe sobre elas, como mantém de prontidão o gume de uma operação na qual empresta sua corporeidade ao que ele próprio desconhece. Por ser capaz de prescindir do apego a suas fantasias sobre a verdade daquele a quem escuta, pode deflagrar o processo analítico, por meio do qual eventualmente se descortinará no sentido dos sintomas que se apresentam a este encontro de fala e silêncio. Originados do contínuo trabalho das várias Seções e Núcleo do Corpo Freudiano Escola de Psicanálise, os doze artigos aqui reunidos examinam a especificidade de um campo clínico a se desenhar na diferenciação diagnóstica, cujas bases se assentam e se declinam de acordo com as diferentes estruturas subjetivas delimitadas pela prática psicanalítica. Numa época em que se caça a luminescência de novos sintomas, como se eles fossem materialidades desprovidas de linguagem, as elaborações que se leem nestas páginas ajudam a desvelar roupagens e máscaras de que se servem tais manifestações do sofrimento subjetivo ante o ineludível da castração e a ignorância do desejo e das pulsões, bem com contribuem para consolidar as coordenadas teóricas que servem de lastro a atualização da aventura freudiana.

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Florbela Espanca: Laços de amor e dor

Eliana Luiza dos Santos Barros – 2014

Este livro de Eliana Barros é um delicado, honesto, respeitoso e interrogante olhar sobre a poética de Florbela Espanca, Para ela, não se trata de psicanalisar a escritora e menos ainda sua obra. Com Lacan, Eliana aprendeu que o escrito não pertence à ordem do compreensível, mas certamente à do intangível, do inefável. A letra é um saber inconcluso que se debate entre o vazio e o nada, lidando com a ausência, com a falta, sempre no afã de cerzir o transbordante oco desse desamparo. Escrever é, antes, uma maneira de não se apartar do mundo, de nele se inscrever, ao mesmo tempo que nascemos dele, assistindo ao nosso próprio parto, ao nosso próprio dar à luz. A escrita adia a morte; daí que o testemunho da arte nos seja tão vital! Tanto quanto Freud, Eliana permanece atenta, neste trabalho, àquela “vasta gama de coisas entre o céu e a terra” incrustada nas obras, e ”com as quais a nossa filosofia ainda não nos deixou sonhar” – como bem nos elucida o nosso Velho austríaco. Também Florbela detém essa memória sobre a qual nada se sabe. A sua poética de inquietude e de desassossego talvez emane da ambivalência do amor, em peregrina e insistente busca da plenitude absoluta – por isso sempre baldada. Assim, nos jogos dessa rima soante e primordial (essa entre “amor” e “dor” que já comparecia na poesia cortês ou de estrato campesino, desde os primórdios, desde o medievo da nossa língua), o afeto desmesurado de Florbela é ora acalenta(dor), ora arrebata(dor). Se a dor é o derradeiro esteio que ainda nos isola da loucura e da morte, a escrita, modo de elaborar e de organizar essa terrível aflição, não seria (como pergunta a estudiosa) uma saída para o sofrimento? Observe-se que Eliana Barros não pretende explicar aquilo que essa escrita comunica, mas antes desbastar, desentranhar o processo psíquico que preside a tais mensagens. De modo que ela invoca as proximidades e distâncias entre luto e melancolia, entre gozo e desejo, entre as variegadas e espantosas investiduras do amor. Parece ser, portanto, mais do estatuto da melancolia, do gozo e do amor-paixão que a obra de Florbela Espanca se nutre. Assim, sabia o leitor: tomando para si este volume, não estará apenas conhecendo Florbela, mas também os liames, os enlaces, as relações íntimas entre Psicanálise e Literatura. Ambas caminham, de mãos dadas, na contramão da cultura. Maria Lúcia Dal Farra

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Futuros da psicanálise

Altair José dos Santos e Marcela Toledo França de Almeida – 2017

Os efeitos da descoberta do inconsciente e da influência no mal-estar de acontecimentos ressignificados retroativamente não exilam dos futuros possíveis construídos pela clínica psicanalítica o quinhão de liberdade pelo qual o sujeito, queira ou não, se responsabiliza. Não raro, o entendimento adquirido por este de que, uma vez falante, deve lidar com o que sua existência gera de inédito passa pela presença de uma voz interior que lhe dificulta ou impede o desembaraço próprio à criação. A herança simbólica, que o determina, e o desejo de outra coisa, pelo qual se move adiante, se tornam então duas faces de um compósito causado por um real que não cessa de não se escrever, mas mantém vivo o direito que ele tem de tornar-se o que ainda não é.

Organizados em cinco eixos – clínica, formação, amor, arte, direitos do homem –, os 21 textos aqui reunidos se originaram da interlocução ocorrida antes, durante e após o iv Encontro Nacional do Corpo Freudiano Escola de Psicanálise e o ii Encontro Internacional da Rede Americana de Psicanálise, realizados no fim de 2014 em Pirenópolis, Goiás. Embora partam e tratem de pontos cardeais da psicanálise, como a transferência, as estruturas clínicas, o pertencimento institucional e a transmissão, têm como pano de fundo tanto a situação atual quanto o porvir de questões candentes seja da experiência analítica, seja da cultura e do contexto sociopolítico em que esta se exerce. Sua publicação, desse modo, busca propagar, em face da perene irresolução da linguagem apropriada pelo sujeito, não a ilusão, sempre à frente, de que se obteria de outras fontes o que uma psicanálise não pode dar, mas sim o desengano, ainda à vista, de que nesta é preciso reaprender a falar.

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“Tive êxito onde o paranoico fracassa”: Teoria e transferência(s)

Chawki Azouri – 2017
Prefácio de Élisabeth Roudinesco

Este é um livro excepcional, escrito por uma psicanalista para psicanalistas. E também para aqueles que se interessam pela paranoia e suas construções delirantes. Num trabalho refinado, Chawki Azouri, libanês formado no círculo lacaniano em Paris, ousou entrar na intimidade dos cruzamentos transferenciais entre Sigmund Freud e seus principais interlocutores – Wilhelm Fliess, Carl Gustav Jung, Sándor Ferenczi e Ernest Jones -, para interrogar a surpreendente teoria erigida pelo fundador da psicanálise em seu estudo sobre o presidente Schreber. Ao percorrer com minúcia e erudição os principais trabalhos que, depois de Freud, se debruçaram sobre o mais famoso caso de paranoia da história psicanalítica, Azouri se pergunta por que Freud, em seu exame, não valorizou os terríveis escritos educativos do pai de Schreber, que desvelam sua relação com a lei, bem como questões essenciais como a linhagem, a transmissão do nome e a procriação, devidamente valorizadas, cerca de quatro décadas depois, por Jacques Lacan. Nesse contexto, a ênfase freudiana na homossexualidade como fator preponderante na gênese da paranoia parece não apenas servir como uma teoria-resistência contra a emergência da questão paterna e o estabelecimento da filiação que daria prosseguimento à obra do pai da psicanálise, mas também espelhar intensos conflitos transferenciais e de precedência entre este e os primeiros psicanalistas à sua volta. “Tive êxito onde o paranoico fracassa”, famosa frase escrita por Freud numa carta a Ferenczi, em que ele se refere implicitamente a Fliess, abre-se assim à sua polissemia. Além de significar o triunfo manifestado por ele diante da conquista de um reino que se achava mítico, quer dizer também – e, talvez, mais essencialmente – que a sombra da paranoia ameaça a psicanálise em sua própria estrutura. Afinal, nada mais próximo a esta do que um discurso que, pela fala do sujeito, busca desvelar outros sentidos no que se diz. E, evidentemente, no que não se consegue, não raro, escutar. Marco Antonio Coutinho Jorge

Livro-A-Ceu-Aberto

A ceú aberto: o inconsciente na clínica das psicoses

Silvia de Souza Levy e Maria Filomena Dias (organizadoras) – 2018

Na clínica da psicose, a escuta do sofrimento logo desnuda que ao psicanalista não basta o que já se consolidou teoricamente desde a invenção freudiana. Ainda que conheça a função e o campo da fala e da linguagem, bem como a direção do tratamento e os princípios de seu poder, e se disponha a não recuar em face do que se apresenta, ele tem de, a cada vez, apostar na singularidade do sujeito, deixando-se ensinar pelo que este lhe diz. Na experiência analítica propriamente dita, em que teoria e prática se encontram sobredeterminadas, é preciso não apenas estabelecer as condições para a sua efetivação, mas também, se for o caso, deixá-la refazer-se. Derivado das contribuições apresentadas no V Encontro Nacional e V Colóquio Internacional O inconsciente a céu aberto: as psicoses na psicanálise, realizado pelo Corpo Freudiano Escola de Psicanálise em Belém do Pará em 2015, o conjunto dos textos aqui reunidos, precedido por duas conferências de Alain Didier-Weill sobre o supereu, subdivide-se em cinco linhas de investigação e pesquisa. Nas três primeiras, dedicadas à estrutura da psicose e seus mecanismos, ao seu diagnóstico em suas diferenças em relação aos da neurose e da perversão, e às contingências inerentes à entrada em análise e à construção do delírio, destaca-se o interesse dos autores em discernir e fundamentar o que é redutível e específico na psicose, ao passo que, nas duas últimas, concentradas em torno da voz e da suplência, alinhavam-se quer destinos
da alucinação e de escolhas feitas sob transferência, quer formas diversas de tratamento do real pela arte. Não se exploram aqui deficiências ou incapacidades. A irrupção da psicose, entendida como um desencadeamento ao qual só se atribui legibilidade por seus efeitos e consequências, é uma vivência subjetiva igualmente submetida à linguagem e aos discursos, razão pela qual mantém tanto os desígnios de sua história quanto os prodígios da criação. Aos psicanalistas, portanto, cabe sustentar a sua transposição naqueles por ela afetados, no sentido de lhes franquear um caminho a seguir, sem que, para isso, tenham de cerrar os próprios ouvidos para o que é insensato, iniludível ou insuportável.

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Como alguém se torna psicanalista?

Jacques Nassif – 2018

A correspondência entre uma jovem – cujo saber ainda não sabido se volta para questões decisivas a respeito de como alguém se torna psicanalista – e seu interlocutor, formado no contexto da clínica e do ensino de Jacques Lacan – e de que o nome atesta, por homofonia, o insabido nos equívocos da fala -, é o palco onde se desenrola este convite de Jacques Nassif às sutilezas de uma leitura que se enriquece, sobretudo, da compreensão do que se esboça nas entrelinhas e não do que se consegue decifrar no escrito. Tendo como pano de fundo a redefinição do ofício de psicanalista ocorrida na Europa nas últimas décadas com base no que a legislação a respeito das psicoterapias passou a prever – e não na análise leiga, no sentido em que Freud a entendia -, as cartas aqui reunidas permitem vislumbrar não apenas que da clínica de um mesmo psicanalista pode decorrer tanto o melhor quanto o pior, mas também que todos os critérios sobre o fim (mas não os fins) de um tratamento psicanalítico que já foram definidos pelos próprios analistas tem como única utilidade revelar sua inconsistência. Numa experiência que se revelará psicanalítica, trata-se sempre de inventar uma solução para um problema jamais verdadeiramente estabelecido por aquele que sofre de seu sintoma. Em seu decorrer, a constatação de que não havia meios de resolver esse sofrimento se torna o recurso pelo qual o analisando fará sua queixa aflorar, abrindo-se à possibilidade de reorientar sua existência no mundo. Ao abrir mão da genealogia de um eventual saber previamente estabelecido, cuja forma corpórea se apresenta em quem o escuta, aprenderá com as próprias vísceras que alguém só se torna psicanalista, valendo-se da travessia de um padecimento pelo qual se deixa de ensinar.